Como atriz, encenadora e poeta de coração, ir a Itália foi sem dúvida uma oportunidade não só de promover o meu trabalho mas sobretudo de aprender e me desenvolver como artista. De 14 a 17 de Outubro, integrei a residência artística Art in Progress, em Cagliari, na antiga fábrica de Tabaco que procurava aprofundar perspetivas sobre a comunidade que ali nasceu, inicialmente composta apenar por mulheres e, ao atravessar um período de guerra, criou uma forte união entre membros como resposta às adversidades socioeconómicas. Também nós construímos a nossa própria comunidade de artistas de áreas diferentes – Aaeiyt – Dj, Claire Farrugia – Pintura, Chrust – uma banda composta por três músicos, Daniela Ariza – fotografia, Darina Molatová – escultura, eu e o Miguel de Luna na categoria de teatro sendo que o Miguel é o compositor, músico e braço direito em toda a minha jornada até aqui. Construímos assim, na base da transdisciplinaridade, um espetáculo em três dias ao longo de um processo intensivo mas gratificante.
A experiência do Martelive Europe foi composta por duas partes das quais uma residência artística em Cagliari que juntou alguns dos finalistas em torno de um projeto comum e a final em Roma que juntava quarenta e oito participantes, três de cada uma das categorias artísticas envolvidas no concurso Europeu. Assim dos mais de mil candidatos da primeira fase são dezasseis os vencedores desta primeira edição do Martelive Europe.
Dado que uma grande parte do teor da minha arte – teatro, poesia e curadoria – e pesquisa passa pelos direitos sexuais, reprodutivos e humanos numa perspetiva que procura promover de forma ativa a igualdade de género, foi muito bom poder fazer parte de uma criação a partir de um exemplo de sororidade como este. Nas datas entre 19 e 21 pudemos viver a final do Martelive Europe integrado no festival Martelive em Roma. Voámos no próprio dia da nossa apresentação e confesso que a minha energia, ao chegar, refletia o cansaço do processo e da viagem. Contudo, ao entrar no espaço sentimos o entusiasmo da grande dimensão do evento que iria dar início ali, ao longo dos três pisos da discoteca Qube.
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Senti também alguma desorganização típica de uma primeira edição. Sendo que Martelive é um festival com vinte anos senti que esta nova integração do concurso Europe, apesar de se estrear connosco, podia ter sido feita de uma forma mais inclusiva. Se calhar não estavam completamente preparados para receber artistas de fora. No entanto, creio que apesar das dificuldades apresentadas se disponibilizaram a resolver o melhor possível com as condições existentes. Uma primeira edição é sempre uma montanha russa emocional e esta não foi exceção mas o que me fez ter vontade de continuar foi a boa vontade das pessoas envolvidas.
A organização, a produção e especialmente os artistas – todos se entregaram inteiramente face às adversidades e se adaptaram às novas realidades apresentadas. Fomos comunidade do início ao fim. Foi uma honra enorme partilhar estes espaços e momentos com o leque incrível de artistas de tantas áreas diferentes, apresentar o nosso trabalho ao público imenso e maravilhoso que ali assistia a três andares repletos dos mais diversos tipos e estilos de arte e sobretudo, ter a oportunidade de criar com alguns deles uma peça da qual me orgulho muito.
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Estou muito grata por todo o apoio que recebi ao longo desta jornada da família, dos amigos, dos meus colegas neste processo criativo mas também de pessoas menos próximas que votaram em mim e mostraram uma grande generosidade nas partilhas e mensagens.