Lisboa é hoje uma cidade mais verde. Quais os desafios que tem pela frente?
Lisboa ainda tem muito trabalho por fazer. Felizmente, é uma cidade que tem tido uma preocupação cada vez maior do aumento da área verde, seja no contexto de parques, jardins públicos ou hortas urbanas. Nota-se que há cada vez mais pessoas com essa preocupação e não só os profissionais do setor. Temos de apelar sempre ao verdadeiro sentido de que uma cidade sem vida acaba por ser um sítio onde não se consegue viver muito tempo. Toda a qualidade de vida que se pode ter numa cidade mais verde pode ser um atractivo para as pessoas terem maior prazer e mais gosto em sair de casa e fazer caminhadas. Pessoalmente, agrada-me o conceito das hortas urbanas. São espaços de auto sustento de algumas famílias, acabam por ser espaços de descompressão psicológica e são também um balão de oxigénio no meio da cidade. Há espaços municipais que acabam por estar baldios sem necessidade.
Um dos argumentos mais apontados à Câmara Municipal de Lisboa é a burocracia dos processos urbanísticos. Concorda?
Infelizmente, os processos são muito burocráticos. Alguma burocracia em ordenamento de território faz sentido, nomeadamente, porque são feitos com uma matriz com uma preocupação ambiental e ecológica. Em alguns casos, com a pressão urbanística, se não houver alguma burocracia torna as coisas demasiado fáceis para conseguir ultrapassar essas questões. Não sou apologista de que devemos simplificar todos os processos. Há processos quanto mais simplificados torna mais fácil ultrapassar as questões legais, normalmente ligadas à parte ambiental. Há outros processos que não têm impacto ambiental e ecológico e que acabariam por acrescentar valor noutras vertentes. Por vezes, acabam por encontrar entraves e não avançar porque somos um país muito burocrático.
Na sua opinião, o investimento feito na área do urbanismo no nosso País corresponde de facto a uma preocupação do Governo ou vai encontro daquilo das imposições da União Europeia na questão ambiental?
Acho que é um misto. Costumo dizer que sou apartidário, mas noto que se houver atenção política as coisas fazem-se. Se não houver intenção política local – autarquias ou juntas – não passam, mesmo que sejam justificadas a nível académico e científico.
De que forma é exequível a congregação de projetos urbanísticos baseados na utilização materiais sustentáveis, minimização do consumo de água e eficiência energética?
Não são fáceis de congregar, mas para se conseguir tem de ser ter essa capacidade de pluridisciplinaridade. Creio que o trabalho do arquitecto paisagístico acabar por ser fulcral, porque consegue ter a abrangência de perceber sob vários pontos de vista – ecológico, gráfico, botânico, ambiental, sustentável – e conseguir congregar todas essas partes e tentar perceber se um projeto idealizado com determinados materiais consegue ter uma visão ambiental com uma pegada ecológica menor. Em termos de processo fabrico dos materiais utilizados, a sua durabilidade, a contaminação dos espaços onde são instalados. Felizmente, em Portugal somos um País pequeno que não tem muitos arquitectos paisagísticos mas os que tem são muito bons. Tentamos sempre além da componente estética tentar cumprir com todas as outras.
Perspetiva portanto uma continua melhoria no que respeita à profissão e aos profissionais.
Noto que temos boas escolas de paisagismo, temos muito bons arquitectos paisagísticos em Portugal e lá fora também e isso acaba por ser bom para o nosso país. Temos felizmente muitos colegas a trabalhar no estrangeiro e a serem reconhecidos. Temos mais escolas do que tínhamos há uns anos. Portanto, acho que o nosso mercado já não consegue absorver muitos mais arquitectos paisagísticos, mas dada a quantidade de coisas que há para fazer há espaço para toda a gente. Choca-me um pouco certos trabalhos serem entregues a colegas de outros países, só por reconhecimento, quando temos pessoas no país muito válidas.