Este disco abre com a humorista Joana Marques. Como surgiu esta ideia?
Na verdade foi uma necessidade quase minha este início de álbum ser no mesmo mood do primeiro. Vejo este álbum como uma continuação do primeiro. Ainda pensei em falar novamente com o [Nuno] Markl, mas eu acho que ele já me ajudou e por isso o convite à Joana foi um bocado natural. Ela convidou-me para participar no espetáculo dela nos Coliseus [Extremamente Desagradável ao Vivo], para fazer um momento humorístico e em backstage surgiu a conversa: ‘Olha e porque não entrares no meu álbum?’. Ela aceitou logo. Foi algo muito natural e muito rápido de se concretizar na verdade.
E o processo de gravação?
Também foi rápido, apesar de eu ter desmarcado várias vezes. No final da manhã dei um pulinho à Renascença e conseguimos gravar.
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Conta com outros artistas neste disco. Como surgiram os nomes e as parcerias?
Eu acho que todos os duetos do disco foram inesperados. Por exemplo, o Marante foi o primeiro nome que eu contactei. Quando falei com ele ainda nem tinha a canção. Fiz o convite a dizer que gostava muito de tê-lo comigo e se poderia escrever uma canção. Ele disse logo que sim. Foi um desafio engraçado no sentido em que foi das únicas canções que eu fiz propositadamente para o artista que estava a cantar comigo. Eu sabia que queria cantar com ele, mas não tinha a canção. Foi a construção da canção que não pertencia ao meu registo, nem ao registo dele, mas encontrávamos ali um meio. Achei um universo tão fora do nosso que só poderia ter um bom resultado. Estou super apaixonada pela canção.
Porquê o Marante?
A voz do Marante sempre teve uma presença muito específica no meu crescimento. O meu pai sempre adorou Marante e nós tínhamos sempre a cassete do Marante a tocar nas viagens de família. Era uma voz que para mim significa casa. É o trazer 100 por cento de mim e da minha história. Tinha essa necessidade de trazer essa voz para o meu álbum porque faz parta da minha história, do meu percurso.
Esta música vem ajudar a quebrar ideias pré-concebidas ao género popular?
Eu acho que tudo é música quando tem acordes e melodia, mas sim trazer esse lado mais tradicional para o álbum foi mesmo uma procura de buscar o que é meu. É a linguagem que eu tenho e o que sai de mim naturalmente. Tenho sangue minhoto, é um bocadinho por aí.
Tem outras convidadas…
O dueto com a Natalia Lacunza veio mesmo de uma necessidade minha de me colocar a conhecer novos artistas fora de Portugal. Tenho um fascínio grande pela Natalia, reconheço-me imenso na linguagem e estética dela. Senti sempre uma aproximação, mas digital. Quando lhe propus e ela disse-me que sim eu fiquei: ‘Como assim, é assim tão fácil?’. O processo foi super fácil, as chamadas do Zoom para nos conhecermos melhor. Explicar-lhe a história por trás da canção. Ela adorou o conceito, reconheceu-se e foi muito acessível. A Manuela Azevedo ainda mais fácil foi e já tinha o contacto dela.
Já se conheciam?
Tinha trabalhado com ela no Festival da Canção há uns anos. Tinha aquela canção e senti a necessidade de ter lá alguém para aquilo ficar em bom. Para compor a canção tive uma semana em loop a ouvir todos os álbuns da Rita Lee e precisava daquela mulher poderosa, com aquele poder muito específico. Eu acho que a Manuela é única em Portugal. Convidei-a, ela disse que sim. Temos um videoclip brutal para publicar. Saí amanhã [19 de maio], acho que é o remate perfeito e a analogia perfeita do que é este álbum. Temos um lado muito humorístico, mas também é aquela força que eu gostava que fosse representada.
Este álbum reflete muito a ideia de conceito. De que forma trabalhou cada canção?
Eu estudei Artes Plásticas, mas nada tem a ver com música. O conceito é base das Artes Plásticas. Eu acho que as músicas nascem sempre assim. Por exemplo, o ‘Nasci Maria’ nasceu de um conceito, já com indicações de palco televisivas. Era o conceito que eu queria criar. A canção já vinha com o videoclip escrito ao lado. O Lugar I também veio com o videoclip escrito ao lado. Portanto, todas as músicas já vinham com um universo associado. Sabia exatamente o que queria propor em cada uma das canções e isso facilitou o processo. O mais difícil foi unificar essas músicas todas para soar a álbum e esse foi o processo que demorou mais tempo. Foram quase dois anos ao lado do David [Fonseca] para unificar essas canções e ao mesmo tempo todas terem a sua personalidade.
A ‘Nasci Maria’ está a ser muito acarinhada. A canção está como queria?
Estou completamente apaixonada pela canção. Obviamente que trazer essa canção para um espetáculo ao vivo obriga a muitas mudanças. Eu gosto disso. As músicas estão no álbum com um propósito, mas para serem tocadas ao vivo têm de ser preparadas de uma outra forma. Estou muito contente com a produção da canção acima de tudo. Fico muito contente com as brincadeiras muito específicas que estão lá dentro e quase ninguém ouve, mas estão lá a lançar a música para a frente. Quase como um movimento: ‘Vamos lutar, avançar’. É isso que gostava de dizer na canção. Estou apaixonadíssima pelo que consegui fazer ao lado do David.
Concorreu ao ‘Festival da Canção’ com a Nasci Maria. Qual foi o propósito?
A música foi feita para o ‘Festival’ e na verdade também para este álbum. O meu propósito para o ‘Festival’ foi 100 por cento cumprido. Gostava mesmo de participar no ‘Festival’ novamente, de pisar aquele palco, mas com uma identidade própria, com uma música que é a minha. O meu grande objetivo com a participação no ‘Festival’ foi mesmo dizer: ‘Esta sou eu!’. Eu não sou ‘O Jardim’. Gostei muito. Fez parte da minha vida e ainda por cima de uma forma muito importante. Se calhar, se não fosse essa oportunidade de me mostrar no ‘Festival’ em 2018 não teria conseguido fazer os álbuns. A oportunidade com a Universal Music e os artistas com quem tenho trabalhado. Aquela participação deu-me essa plataforma, mas de facto era mesmo muito importante afirmar-me como artista, com a minha própria identidade.
O facto de não ir à Eurovisão desiludiu-a?
Não, não sei se conseguiria. Já tinha alguns concertos marcados e teria de os desmarcar.
Vai apresentar-se em breve ao vivo com dois espectáculos em nome próprio em Lisboa e no Porto. Estão praticamente esgotados. Como é que sente?
Reuni com a minha manager e percebi que os concertos estão praticamente esgotados, estou muito contente. Estou muito feliz com este álbum e com estes espectáculos de lançamento, porque no primeiro álbum não tive oportunidade de o mostrar como queria. Lancei-o na primeira semana do confinamento [em março de 2020]. Não me arrependo. Teve o seu tempo e fez todo o sentido, mas a verdade é que ficou esta ansiedade mostrar como é que eu me queria apresentar ao vivo e agora vou ter essa oportunidade ao lado das pessoas que mais adoro e me fizeram crescer e chegar até aqui.
Vai ter muita gente em palco.
Vai ser muito especial. Vou ter convidados inacreditáveis. O conceito e o espaço vão ser a minha casa. Vou trazer o arraial e todos os elementos em palco vão ter uma função. Vai ser um concerto colaborativo com o público.
Os D’zrt estão entre os convidados. O que significa tê-los a seu lado?
Deixa-me muito feliz. Primeiro por estar a trabalhar com os D’zrt. É uma banda com quem cresci. Admiro-os bastante. Admiro-os principalmente pelo que estão a fazer este ano. É mesmo muito especial. São genuinamente das melhores pessoas que eu conheço, têm um coração gigante e uma vontade sempre de evoluir, então reconheço-me muito nessa forma de lutar e fazer diferente e melhor. Gosto mesmo muito. Obviamente que também tinha de levar as minhas Marias e com aquela canção em específico ‘Caminho A Seguir’. E depois este cover também teve um fator especial. Foi a primeira canção que eu produzi e misturei sozinha. Fiz tudo sozinha no meu quarto. Foi quase um momento de emancipação musical para mim.
Como vão ser os próximos meses?
Já tenho as datas da minha nova tour e estou muito contente. Finalmente, acho que vou fazer aquilo com que sonhei com o primeiro álbum, experimentar, ir a vários sítios. Ter estrada que é algo que eu gosto muito. E uma coisa boa que trouxe esta espera foi as pessoas com quem estou a trabalhar. Tenho uma nova banda, voltei à formação de trio. Sempre com o meu André Soares, que está comigo há dois anos, mas temos uma nova adição que é o António Patanito. Esta dinâmica entre os três está muito boa, temos backgrounds muito diferentes e isso complementa-se muito bem em palco.