Recentemente assinalou a sua estreia em teatro aos 18 anos. O que mudou desde essa altura?
Aos 18 anos não fazia ideia do que estava para vir. Achava que ia continuar a estudar teatro, tirar o curso superior e tentar vingar apenas nessa área. A música era uma realidade distante. No espaço de um ano era uma das caras de uma das séries juvenis com mais impacto no nosso país e estava a fazer concertos. A minha relação com o teatro é na verdade retomada uns anos mais tarde, com 21 anos, através dos musicais.
Que inseguranças teve naquela altura?
Todas as que se podem imaginar num jovem que está a começar. Claro que a realidade da nossa profissão em 2005 era muito diferente da que temos hoje em dia. Só o facto de não existirem redes sociais e a nossa relação com os meios digitais, nessa altura, ser ainda muito inicial mudava completamente o paradigma da área artística. Mas lembro-me de ter muitas dúvidas que na verdade ainda tenho. E por um lado acho saudável, são as dúvidas que nos mantêm alerta em relação ao que fazemos e dão sentido crítico ao nosso trabalho.
Estreou-se no palco do Teatro Experimental de Cascais. De que forma vê a passagem por este espaço que é considerado a raiz de muitos atores portugueses?
Estudar na Escola Profissional de Teatro de Cascais foi decisivo para a minha formação profissional mas acima de tudo para minha formação pessoal. E acredito que as duas devem andar sempre de mãos dadas. Ter a sorte de aprender com Carlos Avilez, João Vasco, entre tantos outros professores extraordinários que passaram por aquela escola, deu-me as ferramentas que uso todos os dias. E aos 18 anos, ter a oportunidade de fazer a minha prova de aptidão profissional ao lado dos atores residentes da Companhia do TEC foi o melhor começo de profissão que podia sonhar.
O que é que mantém até hoje da aprendizagem no TEC?
Existe um rigor no Teatro que é essencial. Esse rigor que faz parte dos grandes nomes que marcaram a história do teatro português é também o compromisso com a nossa área e com os nossos colegas.
Ao longo destes quase 20 anos de percurso profissional, temo-lo visto em diversos registos? É para si importante esta diversidade de géneros artísticos?
Se existiu uma altura em que achei que devia optar por uma área apenas – representação ou música, ou dentro dessas áreas com apenas uma linha ou uma estética, percebi mais tarde que este desejo de me ver em diferentes projetos ou registos faz parte da minha identidade. Sou esta confusão saudável de referências e acredito que a linha que tem de ser comum em todas as coisas que faço está na marca que deixo e não tanto nos formatos onde me encaixo.
Em qual deles sente maior reconhecimento do público?
Penso que as pessoas conhecem mais o meu trabalho enquanto cantor, se bem que ao longo destes últimos anos também me têm encontrado muito em teatro musical.
Ver esta publicação no Instagram
Neste balanço de percurso seria inevitável não falar na passagem pelos ‘Morangos com Açúcar’. Consegue recuar àquele tempo? Que memória tem mais presente?
É sempre com um sorriso que recordo a minha estreia em televisão. Era um miúdo, tudo era novidade e estava rodeado de pessoas que me ensinaram muita coisa. Se tivesse de destacar um momento seria obviamente o privilégio de ter tido como avó Simone de Oliveira. Foi aí que a conheci e se deu o início de uma amizade para a vida.
Como vê o regresso da série com as alterações já anunciadas muito diferentes das anteriores?
Acho que não podia ser de outra maneira. Da mesma forma que quando fiz a terceira temporada esta já levava novidades em relação às anteriores e assim por diante, faz todo o sentido que este regresso reflita os tempos que vivemos.
Os ‘Morangos’ foram entendidos durante muito tempo como uma ‘fábrica de novos talentos’. Perdeu-se essa montra? O acesso à profissão ficou mais difícil?
Acho que ganhámos mais plataformas e montras. Umas serão mais válidas que outras mas penso de forma otimista – o talento aliado a muito trabalho e empenho vence sempre.
Acredito que seja contactado por muitos jovens. Que inquietações lhe chegam? E que mensagem transmite?
Para quem normalmente me manda mensagens com o sonho de ser ator ou ser cantor, a mensagem que transmito é sempre a mesma, que aliás é a que sigo – estudar, apostar-mos na nossa formação e nunca colocar como objetivo ser conhecido ou ter fama. Essas podem ser consequências do nosso trabalho mas nunca o motor deste.
Na cena musical tem recolhido rasgados elogios dos maiores nomes em Portugal. O que é que representa para si ter o reconhecimento de nomes como o de Simone de Oliveira?
Representa tudo. Ter Simone de Oliveira na minha vida é uma benção. Cresci a ouvi-la antes de a conhecer. Aprendi com ela antes de sonhar ter o privilégio de cantar ou representar ao seu lado. As nossas referências são os nossos professores. Moldam quem somos.
Ver esta publicação no Instagram
Musicalmente tem apostado muito na força e qualidade das palavras. É uma fórmula sem tempo?
Uma canção sem uma história, sem uma mensagem, pode vingar durante algum tempo. Mas uma boa canção, com uma boa letra, é eterna.
O que é que gostava de fazer mais à frente?
Tenho vários sonhos profissionais em mente, coisas que gostava de fazer em breve mas deixo sempre espaço para ser surpreendido por projetos que não estavam nos meus planos e que me fazem sentido embarcar.
Atualmente, está no Teatro Politeama. Como está a correr este desafio?
É uma felicidade indescritível poder, de quarta a domingo, ver o pano do teatro Politeama subir e ter casa cheia para celebrar connosco aquele que é o género de teatro musical português – a Revista. Estamos há seis meses em cena e enquanto o público quiser, continuaremos.
Que novidades estão em curso?
O meu último disco vai fazer no ano que vem uma década. É muito tempo, passou muito rápido e está na altura de gravar novo disco. Esse é um dos objetivos mais próximos.