Como surgiu a ideia de fazer este espetáculo?
Valter Mira: Fiz um espetáculo no Casino Estoril com o Henrique [Feist] que era o ‘Shrek – O Musical’ e também havia esta coisa de termos várias personagens e por coincidência uma das minhas personagens na peça era o Pinóquio. Tínhamos o figurino e alguns adereços e eu pensei: ‘Está tão mal empregado não se usar mais isto!’.
Henrique Feist: Em abono da verdade, o Valter disse-me: ‘Porque é que a ArtFeist não ganha dinheiro com um musical infantil produzido por si em vez estar a pagar direitos aos outros?’. Tem lógica.
V: Deu-me na cabeça e comecei a escrever. Já nem sei quando foi.
H: Um ano e meio, dois… Fez o guião e as letras das canções.
V: Entreguei ao Henrique. Ele gostou e rapidamente falou com o FF e o Miguel Amorim para fazerem as canções que estão lindas de morrer. Foi assim o processo de iniciação deste espetáculo.
De que forma adaptou este conto intemporal ao teatro musical?
V: Peguei na história original do Carlo Collodi. Li o livro e pesquisei bastante sobre a história. Depois fiz aquilo que mais me fazia sentido nos dias de hoje. Acho que este espetáculo está um pouco mais modernizado, até ao nível das melodias. A nível visual e as próprias personagens são um bocadinho diferente daquilo que se está à espera. A Fada não é só uma fada, é uma fada estagiária muito trapalhona.
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Procurou trazer a atualidade para o espetáculo.
V: Foi uma coisa muito natural. Ao escrever, fui muito por aquilo que acredito, o que me rodeia no meu dia-a-dia. Acho que até foi fácil seguir esse caminho, não foi nada muito sentido.
H: Estes grandes contos como o Pinóquio têm sempre uma característica comum que são as morais. Elas estão lá sempre. O que a história tenta apregoar, do não mentir, do amor e por aí fora. Nunca se pode mexer na moral. A única coisa que se pode mexer é na forma como queremos apresentar essa moral. Nas diversas versões que existem do filme do Pinóquio podemos encontrar outros elementos, mas a moral nunca deixa de lá estar. A forma como se apresenta a moral é que é opcional.
Este é um elenco multifacetado com várias funções em cena. Como foi a selecção?
V: Não é nada fácil. Fizemos um casting em que acabámos por escolher dois dos atores que estão na peça. Os outros já tinham sido convidados. Sabemos que todos eles têm essa capacidade de mudar de personagem, de cantar, dançar, ser rápidos nas mudanças. Todos eles têm competências para isso. Nesse aspeto, estamos muito descansados.
Como vai ser a interação do Pinóquio com o público?
V: Este Pinóquio tem sempre uma forma de falar e de estar em palco muito empático. Acho que todas as crianças se vão conseguir rever nela, mesmo que seja um boneco, não deixa de ser uma criança. Nesse aspeto, a Joana está a fazer um trabalho muito bom.
H: Todas as personagens representam aquela peça que gostaríamos de ter na nossa vida. O grilo para nos dar os conselhos, um pai como Geppetto e a Fada para nos resolver os problemas.
V: O próprio Pinóquio está em palco de uma forma mais humanizada.
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Curiosamente, este Pinóquio é desempenhado por uma atriz, a Joana Brito Silva. Foi uma escolha natural?
V: Não associámos o Pinóquio a nenhum género. Ele quer ser alguém de verdade.
H: O que importa é o ideal e não o género da personagem. Há vários exemplos no teatro em todo o mundo, onde foram feitas trocas. Mulheres a fazer personagens masculinas e o contrário. É o ideal que tem de predominar. Fizemos as audições para o Pinóquio e ficámos com a interpretação que gostámos mais, neste caso a da Joana. Foi uma coincidência. É um brinquedo de maneiro que quer tornar-se real. Ajuda a desmistificar esta coisa das pessoas sentirem que não podem ser o Pinóquio, porque é um menino. É importante ter essa representação.
A poucas horas da estreia, como está o ambiente em bastidores?
V: Estamos naquela reta final para estrear e já sentimos aquele nervoso miudinho. Nestes últimos dias damos atenção a um pouco de tudo. As coreografias e músicas é o que está mais sólido. Agora é acertar em mudanças de figurino. Temos só quatro atores e todos eles, à exceção do Pinóquio, fazem várias personagens. Estamos a passar por todas estas fases.
Porque é que o público não pode perder este espetáculo?
V: Queremos convidar toda a gente a vir ver o Pinóquio – Uma Aventura Musical. Estreamos este sábado, 25 de março. É um espetáculo infantil, com músicas originais, com atores e cantores belíssimos. Acho que se vão divertir muito, tanto os mais novos como os mais pais, avós, primos.
H: O espetáculo está muito bem escrito e encadeado. O teatro musical tem uma forma de ser feito e o Valter tem essa intuição e perceber como as coisas resultam num espetáculo de uma hora. Isto não se ensina, parte da intuição e esse rapaz tem esse dom.
Sinopse do espetáculo:
Era uma vez um tronco de madeira que, certo dia, foi oferecido a Gepetto, um velho carpinteiro amante de marionetas, que sempre sonhou ser pai. Construiu rapidamente um boneco que por magia ganha vida e é aí que toda esta inquietante aventura começa.
Pinóquio, que ambiciona ser um menino de verdade, escolhe sempre a diversão em vez da escola, desobedecendo ao seu pai, e rapidamente percebe que nem sempre será esse o melhor caminho. Conhece várias personagens ao longo da sua viagem que vão deliciar o imaginário de miúdos e graúdos…passando pelo Grilo Falante, a Fada Azul, a Raposa e o Gato, entre muitos outros.