O que motivou a mudança para Moçambique?
Não fazia parte dos meus planos sair de Portugal. Já tinha pensado algumas vezes, mas nunca pensei que teria coragem de o fazer. Terminei a minha licenciatura em 2015, mas nunca exerci na área. Fiquei desempregada em 2017 e só consegui arranjar um part-time. Não me sentia concretizada e claro que, com um salário de part-time nunca iria conseguir sair da casa dos meus pais e ser independente com o meu namorado. O pai do meu namorado vive em Moçambique desde 2010 e já tinha feito vários convites para vir viver para Moçambique.
Quando fiquei desempregada, o contrato do meu namorado também não foi renovado. Parece que foi ‘coisa’ do destino e acabamos por aceitar o convite. Tomamos esta decisão em Março/Abril de 2018 e em Junho já estávamos em Moçambique de malas e bagagens prontos para ficar.
Infelizmente Portugal não está preparado para empregar jovens e muito menos para lhes dar uma vida digna em que possam viver e não sobreviver. Portugal tem um longo caminho a percorrer nesse aspeto.
De que forma percepciona a imagem de Portugal estando fora?
Estando fora do País, vejo Portugal como um paraíso para turistas, mas para viver a conversa já é outra… Habitação cada vez mais cara, créditos impossíveis de suportar. A vida em geral está cada vez mais cara. Mas claro que Portugal para mim representa CASA, é onde está o meu coração. É onde está a minha família, é o país onde cresci e nunca vou deixar de amar Portugal!
Felizmente é bastante fácil manter Portugal no meu quotidiano em Maputo”
Como descreve a sua experiência enquanto emigrante portuguesa?
Como emigrante portuguesa sempre me senti bem recebida em Moçambique. As pessoas no geral são muito simpáticas e calorosas. Gostam de mostrar a sua cultura, explicar tradições e dar a conhecer os pratos tradicionais.
Mas ser emigrante também tem o seu lado negativo, existe muita burocracia para questões legais e todos os processos são bastantes lentos e demoram muito tempo. E ao ser emigrante portuguesa, às vezes sinto que a qualquer momento posso ser enganada até a comprar bananas! Faz parte e uma pessoa com o tempo vai aprendendo a evitar essas situações.
De que forma mantém Portugal no seu quotidiano?
Felizmente é bastante fácil manter Portugal no meu quotidiano em Maputo. Existem muitos produtos portugueses, muitas vezes são caros, mas quanto a saudade aperta… Existem também imensos restaurantes com pratos portugueses! Celebramos sempre que possível as datas mais portuguesas como os Santos Populares, 10 de Junho e o Natal com bacalhau e couves.
Sinto-me bastante realizada mas sempre a ambicionar crescer na carreira”
Profissionalmente está realizada? Quais são as perspetivas?
De momento estou a trabalhar como Assistente Administrativa numa empresa na área dos transportes. Sinto-me bastante realizada mas sempre a ambicionar crescer na carreira. A longo prazo gostaria muito de abrir um negócio na área da moda/beleza.
Cruza-se com outros portugueses no dia a dia? Como são as vivências?
No meu dia a dia cruzo-me com bastantes portugueses. Infelizmente sinto que a comunidade diminuiu depois da pandemia. A convivência com portugueses é agradável. Já tive contactos menos positivos, pois para viver no estrangeiro é necessário ser simples e humilde (na minha opinião) e existem muitos portugueses que em parte se sentem superiores, só por serem portugueses. Penso que, num país estrangeiro nunca devemos ter essa postura. Seja em que canto do mundo vivermos, devemos ser despretensiosos e respeitosos.
O que perspetiva para o futuro a curto prazo?
A curto prazo pretendo continuar a trabalhar. Gostaria de conhecer mais Moçambique e os países que fazem fronteira. Viajar é uma das melhores formas para crescimento e enriquecimento pessoal.
Que conselho deixa a quem está a ponderar emigrar?
O conselho que posso deixar para quem gostaria de emigrar e ter bastante coragem, pois nem todos os dias serão fáceis. Deixar onde crescemos e a família não é fácil e as saudades aumentam todos os dias. É preciso analisar bem qual é o país para onde se quer emigrar: questões legais, de trabalho, de saúde, de estilo de vida, etc. Aconselho não ir ‘às cegas’ e ter sempre alguém de confiança que nos possa ajudar caso alguma coisa corra mal.
Para emigrar também devemos ter a mente aberta para conhecer novas pessoas, culturas, hábitos, religiões, etc. Devemos manter uma postura de respeito para o país que nos irá acolher. E manter sempre a positividade!