Como está a viver este regresso aos discos? E o público como está a recebê-lo?
Está a correr muito bem. Tem sido uma enorme surpresa. As pessoas têm gostado muito do álbum. Eu acho que valeu a pena esperar este tempo para encontrar uma evolução da minha sonoridade habitual e tem sido bem recebido. Sinto que as pessoas acham que é uma sonoridade mais madura, mais trabalhada, mas uma evolução positiva.
Existe algum tema que esteja a ter um reconhecimento maior do que o esperado?
As pessoas têm escolhido muito o ‘Saber Dizer Adeus’ como single. Foi uma escolha que aconteceu até online. Foi algo que não foi propositado. Este tema tem-se destacado de uma forma natural. Já está a tocar na rádio. Confesso que é um dos meus temas favoritos e por isso até o coloquei em último no alinhamento do álbum porque de facto quis fechá-lo na minha opinião com chave d’ouro. Eu tenho muita esperança que este tema faça a diferença e faça o seu caminho.
Neste tema trabalhou com o músico Diogo Clemente. Como é que aconteceu esta fusão?
O Diogo é autor da letra do ‘Saber Dizer Adeus’. Foi uma parceria muito engraçada. Eu tinha a melodia e mostrei-lhe. Estava decidido que o tema ia entrar no álbum, foi gravado sem letra. Passados dois dias ele trouxe-me uma letra que encaixa na perfeição na melodia e sonoridade.
A composição é um processo de grande intimidade. Acabamos inevitavelmente por falar de nós ou de assuntos que nos são próximas de experiência que vimos ou vivemos”
É importante partilhar a composição de um disco com outros colegas?
No fundo, a composição é um processo de grande intimidade. Acabamos inevitavelmente por falar de nós ou de assuntos que nos são próximos, de experiências que vimos ou vivemos, e esta partilha e generosidade com que outros autores se entregam aos nossos temas é muito importante. Acho que o resultado foi muito gratificante para mim.
Este disco inclui duetos com artistas em fases distintas das suas vidas profissionais. De que forma concretizou estas parcerias?
Já passei por muitas fases na música. Fui buscar alguém que está a passar o que eu passei no início, que é o caso da Bianca Barros. Na minha opinião, é a artista com mais talento da geração dela, mas precisa de oportunidade para o mostrar. O single mais recente dela está a tocar em maior parte das rádios nacionais e isso deixa-me muito feliz. Depois, temos a Carolina Deslandes que está absolutamente consagrada com uma carreira brilhante. E faltava-me alguém que me ajudou a criar a minha sonoridade, a crescer musicalmente. Podiam ser várias pessoas, mas escolhi o Jorge Palma, o músico que eu reinterpretei no meu primeiro disco. Se calhar por timidez não o fiz ao longo destes anos, mas gravar um álbum de comemoração dos 25 anos merecia que eu ultrapassasse a minha timidez e fizesse o convite, que foi aceite.
Assinalou os 25 anos de carreira. Como descreve este tempo?
Passou muito depressa. Sobretudo, os últimos 15. Foi fantástico, mas arrepiante ao mesmo tempo perceber a velocidade a que as coisas acontecem.
Há algum momento que destaque de forma particular?
Todos os momentos foram chave, mesmo aqueles que parecem mais insignificantes. Se eu não tenho dado aquele passo que dei em 1995 ao enviar umas cassetes para programas de televisão e esses programas de televisão em VHS para a editora, provavelmente poderia não ter acontecido nada. Por muito que eu olhe para trás e tenha achado a certa altura que comecei cedo demais, se calhar deveria ter procurado ter maior densidade musical antes de gravar o meu primeiro álbum. Hoje não me arrependo. A gravação do primeiro e segundo álbuns foi uma enorme aprendizagem e uma experiencia muito inocente. Apesar de eu ter muita noção daquilo que eu queria e não queria, acabei por entrar nesses álbuns com a sensação de que os outros seriam mais do que eu e portanto por timidez ou humildade acabei por não impor aquilo que hoje acho que deveria ter feito. Isso também é mágico e faz parte da minha afirmação como músico.
O público familiarizou-se desde muito cedo com as suas músicas através da ficção. Foi um fator decisivo para a sua carreira?
Não tenho nenhum preconceito em relação a novelas, nunca tive. Desde há muitos anos, mesmo quando muito poucos músicos queriam ter músicas em novelas. Isso não era uma coisa muito bem vista, eu achava que era importante porque são milhões de pessoas a ouvir de forma continuada um tema e isso faz com que ele tenha reconhecimento e que as pessoas gostem ou não. Sempre achei que isso era uma montra importante e tive o privilégio de ser convidado. Há muitos anos que componho músicas para novelas ou que são sincronizadas em novelas. Acho que isso é positivo e felizmente isso hoje não é visto com preconceito.
Este regresso tem um sabor muito especial, onde estou a celebrar estes 25 anos, porque infelizmente ao longo destes 25 anos vi muitos músicos terem de mudar de vídeo. Celebrar esse marco é uma grande vitória”
No próximo ano estará em digressão. O que nos pode adiantar?
Vai ser relevado dentro de muito pouco tempo. No próximo dia 11 de Janeiro.
O que é espera deste regresso aos palcos?
Espero voltar ao sítio onde sou mais feliz, que é ao vivo. Eu gosto sobretudo de dois lados da música, a composição e tocar ao vivo. Não amo estar em estúdio. Voltar aos palcos é estar próximo das pessoas, sobretudo depois de uma pandemia que nos impediu de estar muitas vezes nos sítios onde gostaríamos de estar. Este regresso tem um sabor muito especial, onde estou a celebrar estes 25 anos, porque infelizmente ao longo destes 25 anos vi muitos músicos terem de mudar de vida. Celebrar esse marco é uma grande vitória.
Como é a sua ligação ao estrangeiro?
É sobretudo com as comunidades portuguesas. Os portugueses que estão fora, estão mais distantes, acabam por viver de forma mais intensa os concertos. São sempre muito agradáveis e os concertos são memoráveis. Têm mais a lágrima nos olhos e ficam com mais saudades de casa.
Além da música, tem outras atividades profissionais. Vai continuar a conciliar?
Estou ligado à hotelaria e produção de eventos. Vou continuar e é algo que está para ficar. É uma vida paralela, mas como eu digo não há nada que me satisfaça mais que a música. É uma questão de criar condições para ter uma certa independência em matéria de decisão de gravar um álbum só porque sim, ou fazer uma digressão porque o calendário ou a carteira o exigem.
É importante ter essa independência?
Infelizmente, quando olhamos à volta percebemos que não há muitos músicos acima dos 50 anos com uma vida mais folgada e eu não quero que isso aconteça. Estou a criar condições para que os momentos ligados à música sejam os mais felizes possíveis.