Que balanço faz dos primeiros tempos de vida do seu mais recente projeto na hotelaria?
O investimento que fizemos mais relevante é Aethos Ericeira. Foi inaugurado recentemente. Ainda não temos grandes números para divulgar. Estamos muito contentes com a procura que já teve e com as pessoas que têm demonstrado interessado no espaço. É um hotel de quatro estrelas, dedicado ao surf e à família. Tem todos os serviços, desde ginásio, piscina, restaurante. É um hotel ligado ao sítio onde está localizado. Temos o mar à frente. Está tudo no lugar certo. O Aethos é daqueles hotéis que as pessoas podem ficar mais que dois dias e até trabalhar. Temos vários serviços disponíveis ao alcance dos hóspedes. Se uma criança quiser fazer surf arranjamos um professor. Se quiserem ir apanhar ondas a Peniche também é possível. A nossa filosofia é encontrar interesse para o cliente dentro da comunidade. Queremos que o hóspede saia do nosso hotel com um conhecimento completo do hotel e da zona envolvente.
A experiência convida à descentralização do Turismo.
Às vezes pensamos que Lisboa tem de ser o centro, mas não há nenhum problema em que a Ericeira seja o centro. Do aeroporto é cerca de meia hora de distância. Do centro de Lisboa cerca de 40 minutos. Contudo, o ambiente leva-nos a sentir que estamos a três horas de distância da cidade. Olhamos para trás temos a montanha, em frente o mar.
Em que é que se inspirou para Aethos Ericeira?
O hotel foi feito de uma forma muito clean, em que conseguimos utilizar o hotel. É muito confortável com todas as coisas modernas, mas ao mesmo tempo oferecer aquele momento em que nos esquecemos de tudo. Quando eu vi aquele sítio percebi logo que tinha de ser feita alguma coisa espectacular. Só colocar quartos já teria de sucesso, mas tinha de ser mais alguma coisa. Tínhamos de acrescentar valor ao que já tínhamos à nossa volta. Depois, conseguimos fazer a obra que tínhamos planeado sem estragar nada. A gente não tem mais nenhum metro quadrado construído além daquilo que estava no projeto. Conseguimos fazer quartos com jardim. Foi tudo muito bem trabalhado pelo arquiteto Luis Pedra Silva, que percebeu logo que seria um hotel de experiencias. Não queríamos estragar nada do que já lá estava. Queríamos deixar tudo o mais natural possível.
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O Aethos Ericeira é uma ideia mais próxima do que entende como ‘hotel do futuro’?
É um hotel relevante para o que a gente quer. Podemos pensar que é um hotel para pessoas entre os 20 e 40 anos. Mas não é bem isso. Temos muitas pessoas que estiveram lá com 50 anos com um vibe de surf que ficaram muito satisfeitos. Não quisemos colocar o hotel numa caixa, mas deixar o mundo entrar. Há uma bebida para cada tipo de pessoa. A idade não é definidora de nada. O mindset é que comanda a experiencia a forma como estamos.
A pandemia trouxe diversos constrangimentos ao setor. Como viveu esta fase?
Mudámos tudo o que estávamos a pensar fazer para o hotel no Alentejo. Depois de tudo o que passámos este é obviamente um mundo novo, quer pela forma como trabalhamos, estudamos, vivemos e procuramos passar tempo. Se calhar, o ski vai ser menos interessante com menos neve. Temos países a decidir que só vão ter turistas que gastam uma determinada média. No Alqueva, estamos a tentar perceber como fazemos um hotel sem fazer grandes mudanças, convidando todos a passar tempo. O ADN da minha ideia em turismo é não excluir mas convidar a fazer parte. Temos muitos sítios que não podemos estragar, mas podemos criar muito valor.
Os empresários alegam dificuldade em fazer investimentos em Portugal. Continua a fazer sentido em apostar no País?
Eu podia investir noutros sítios, mas vejo Portugal como o lugar mais atractivo. Está no centro do Mundo. Estamos a seis horas de Nova Iorque, a duas horas de Londres ou Paris. Temos voos diretos de África ou da América do Sul. Há dois tipos de pessoas neste momento: os portugueses e as pessoas que querem ser portuguesas. Por outro lado, eu podia dizer que há muitas coisas erradas e que poderiam ser melhores. Isso todos conhecem. O Turismo em Portugal está a fazer um bom trabalho. Estamos no mapa do Mundo. Há um grande trabalho a ser feito pelos hotéis em Portugal e os investidores envolvidos na hotelaria em Portugal. Há pessoas que visitam Portugal e têm uma ótima experiencia. As expectativas são sempre superiores. Vemos pessoas a voltar e outros com o desejo de mudar-se para Portugal.
Na sua opinião, o que é que falta mudar?
A burocracia. É um palavrão, mas é mesmo a burocracia. É sempre isso. Às vezes os apreendedores e arquitetos têm ideias fantásticas, que sabem atrair e perceber o retorno para conseguirmos pagar mais e melhores salários e depois são confrontados com longos processos. Essa confrontação dói. Obviamente, há os incentivos para determinados projetos, que nem sempre cumprem os requisitos ideais. Era mais interessante do que dizer a alguém que vai investir num hotel que tem de ter 50 quartos, quando possivelmente 30 seriam suficientes.
“Quando falo com estrangeiros sobre Portugal, noto sempre por parte deles uma grande admiração pela autenticidade do País”
O Turismo em Portugal estava numa fase de crescimento exponencial antes da pandemia e recupera atualmente os números a uma velocidade feroz. De que forma pode ser melhorada a experiência do turista?
Acho que temos de lutar para ter os turistas a passar mais dias em Portugal. O valor de um voo para dois dias é praticamente igual a um de dez. Como é que fazemos para as pessoas conhecerem ainda mais Portugal? O Centro do País é espectacular. O Alentejo também é maravilhoso. Acho que é fazer aquilo que já se faz e juntar outras experiencias. Por exemplo, dois dias no Porto e depois partir para o Centro. A mesma coisa para Lisboa. Dois dias para visitar o Alentejo.
Tendo uma vasta experiência no estrangeiro, como é que percepciona Portugal?
Quando falo com estrangeiros sobre Portugal, noto sempre por parte deles uma grande admiração pela autenticidade do País. Quando saem das cidades principais e visitam outras zonas ainda sentem mais essa autenticidade. Sei que às vezes somos um bocado negativos, vemos sempre o lado negativo, mas eu acho que devíamos perceber que temos um País espectacular e temos ainda uma coisa melhor que são os portugueses quando falam com um estrangeiro. A maneira como falamos, olhamos nos olhos, falamos com o coração e queremos dar a provar a nossa gastronomia e doçaria. Os estrangeiros ficam comovidos com estes gestos. As pessoas saem de Portugal melhores humanos. As vezes ter burocracia ajuda o País a não ir para o Mundo e manter algumas questões mais tradicionais, como a hospitalidade ou o conceito de família.
Quais são os seus próximos objetivos?
Não pretendo ser um ‘grande’ da hotelaria. Temos pessoas nesse mercado com histórias incríveis. Eu quero é fazer algo especial, que faça a diferença. Não temos grandes planos. Temos uma série de espaços com propostas diferentes, que chegam a todas as pessoas. Achamos que temos projetos especiais para pessoas que querem viver uma vida especial. Gostávamos obviamente de ter alguma parceria para o Sul ou as Ilhas. Quero deixar alguma coisa aos meus filhos e que eles pensem: ‘Isto é giro!’. Quero que sorriam, que sintam que houve coração com determinada coisa que eu tenha feito.