Que balanço faz dos últimos dois anos em relação ao setor?
O setor da panificação e similares sofreu bastante com a pandemia, mas não foi dos mais afetados. Continuámos a vender e a produzir. Chegámos a ser os únicos com porta aberta. À partida sofreram mais às padarias que se dedicam à produção para grandes superfícies, as restantes foram mais ou menos mantendo-se no ativo. O desafio para os próximos anos vai depender do que vai acontecer com a crise da Rússia e Ucrânia, que pode ser ainda pior com a pandemia. Estamos a preparar-nos para o que aí vem, responde aos desafios do futuro. Sabemos que Associação precisa de estar mais perto dos associados. São mais as dúvidas do que os problemas. As dúvidas trazem-nos alguns constrangimentos das estratégias que queremos adotar.
Que lições foram aprendidas?
Na minha perspetiva, enquanto empresário, aprendi a fazer um pouco mais de contenção nos investimentos. Fiz uma aposta em particular nos recursos humanos. Na pandemia, a minha empresa não despediu ninguém e fomos à procura de mais espaços próprios. Poupar pode ser a solução ou então pegar em alguma da poupança e fazer um investir controlado para obter mais receitas. Em relação à ACIP, como entidade, teve também de aprender a reajustar-se aos contextos e pensar nas aprendizagens destes últimos tempos.
De que forma a ACIP acompanhou os associados nos últimos tempos?
Os nossos associados durante este período mantiveram a relação habitual. Notou-se um pouco mais de preocupações a nível legal. A ACIP tentou sempre responder às dúvidas que iam chegando em relação aos decretos-lei que foram saindo.
E a ACIP como reagiu à pandemia de Covid-19?
Estamos a tentar adaptarmo-nos a esta nova era digital com diversas estratégias e iniciativas. Menos proximidade física e maior proximidade digital. Queremos manter o que está feito bem feito e fazer algo que leve à ACIP a uma ação em concordância com aquilo que são os desafios contemporâneos. Tentemos ajudar o setor de forma global, mas ele é misto e diversificado. Temos empresas de grande escala e outras mais pequenas. Temos realidades diferentes entre os nossos associados o que dificulta o trabalho da associação para direcionar as suas mensagens.
Sabemos que a ACIP trabalha no sentido de trazer melhorias ao setor. De que forma a associação acompanha as posições do Governo em relação ao setor?
Falo a título particular, não me parece nada lógico que a matéria-prima esteja sempre a subir. Há três ou quatro produtos que deveriam ter isenção do IVA, nomeadamente o pão. Acho que deveria ser quase um direito humanitário. Este produto deveria ser comparticipado pelo Estado ou uma parte do imposto poder ser investido em matéria-prima ou nos recursos humanos e logística. Deveria ser revisto a importância do papel do pão na vida das pessoas. Parece-me pouco lógico que o Estado não faça um pequeno ajuste sobre as obrigações fiscais das empresas, que estão cada vez mais sufocadas. Acho que deveria ser repensado o apoio aos bens de primeira necessidade.
A ACIP tem pressionado o Governo?
Enquanto associação temos vários grupos de trabalho. O grupo que controla a parte jurídica tem feito um trabalho persistente junto das entidades competentes. É um trabalho difícil porque o próprio Governo está cansado de ouvir associações e sindicatos a contestar melhores condições e na maior parte das vezes já não ouve. O Estado sabe que deste setor recolhe muitos impostos e dividendos.