Com a crescente aquiescência da sociedade para a mobilidade, sustentabilidade e espaços verdes, considera que o arquiteto paisagista tem vindo a ser mais procurado?
Mais do que aquiescência assiste-se a uma evolução profunda na abertura da sociedade pós-contemporânea, sobre a importância do espaço exterior nas nossas vidas e no bem-estar geral. A consciência da salvaguarda dos recursos naturais, o relacionamento com o património cultural, a importância da biodiversidade seja na cidade ou fora dela, teve entre outras consequências, uma maior procura nos últimos anos dos profissionais de Arquitetura Paisagista e dos seus serviços junto das áreas do projecto, do planeamento e do ordenamento do território.
De que forma é percecionado o aumento da procura e valorização do arquiteto paisagista?
A atividade da arquitetura paisagista nomeadamente na sua componente liberal e empresarial, como indicador mais sensível às variações do mercado de trabalho, teve por motivos inerentes à realidade económica, uma quebra acentuada no período pós-crise, tendo vindo progressivamente a aumentar a atividade desde 2015. Com o início da pandemia, houve uma quebra ligeira do incremento registado.
No último ano e com grande satisfação, fomos surpreendidos com um aumento substancial da atividade e de novos profissionais inscritos na associação. Como consequência do processo de transformações em curso sobre o território, que decorre da emergência de novas políticas de planeamento urbano e de ordenamento do território, seria muito interessante verificar a resposta adequada por parte serviços do estado, na criação de novas vagas para arquitetos paisagistas, essenciais em sectores chave da administração, para atender aos desafios em curso.
Sente que os grandes centros urbanos nacionais estão no “bom caminho” relativamente à coesão e construção de espaços verdes e zonas comuns?
Aquilo que vinha sendo há décadas um tema de combate dos arquitetos paisagistas na abertura dos conceitos da estrutura ecológica urbana no planeamento e junto dos decisores políticos, acredito hoje estar assumido como uma realidade transversal à implementação das novas políticas urbanas, não somente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, mas também em cidades de média e pequena dimensão.
Falando em coesão, podemos também considerar a importância da coesão de uma estrutura verde numa escala local, mas também regional e do seu papel na promoção da coesão territorial, considerando aqui a estrutura verde como uma entidade portadora de equipamentos e serviços coletivos conducentes ao aumento da qualidade de vida e à redução de disparidade territoriais.
É muito interessante verificar como até à escala das freguesias a capacidade da estrutura verde de redefinir o desenho do espaço não construído e da capacidade de se agregarem os vazios urbanos, transformando-os em áreas de lazer, de produção de alimentos, de desporto, ou simplesmente como áreas de proteção e regeneração ambiental.
Que melhorias poderiam ser feitas aos espaços verdes já construídos?
A garantia de uma manutenção viável numa base de qualidade e neste contexto na preservação do desenho, no respeito pelos conteúdos, vegetal e do tecido construído, e do bom funcionamento da rede de infra estruturas. Infelizmente, assistimos ainda a muitos jardins, parques e espaços públicos, com baixos níveis de manutenção ou quase nulos, envolvendo a perda da legibilidade espacial original, a substituição de vegetação, ou a ausência de critérios de manutenção coerentes com o espaço. Saudamos o regime jurídico da gestão do arvoredo urbano, embora haja ainda muito a fazer. Seria importante repensar na orgânica dos municípios, a dimensão e as valências técnicas inerentes aos departamentos de gestão dos espaços verdes, estabelecendo também capacidade de candidaturas com base em orçamentos ajustados às realidades territoriais em questão.
E aqueles que estão atualmente em construção?
Seria muito oportuno trabalhar uma legislação que promova a proteção efetiva dos parques e jardins na cidade atual, salvaguardando a sua identidade arquitetónica e paisagística assim como a sua relevância na prestação de serviços de apoio à paisagem no perímetro identificado.
Num futuro próximo haverá uma boa relação entre a natureza e a obra humana?
Esse elo existe. É um processo lento. Foram algumas gerações de relações cortadas com a natureza. Atualmente mesmo alavancado pelas recomendações e diretivas oficiais que emergem das alterações climáticas, depara-se ainda com resistências, culturais, sociais e económicas.
Será necessário um compromisso político forte, colocando a paisagem junto das dinâmicas económicas e sociais, e se conseguir que a palavra sustentabilidade ganhe terreno de forma a conseguirmos passar o testemunho às próximas gerações.